domingo, 17 de fevereiro de 2013

Brás Cubas

Brás Cubas

Não consigo ajustar antes de errar. Mas adoraria...

.seria como viver de trás para frentE
.começaria morrendo de vez
(e digo de vez porque a vida se faz de pequenas mortes - Nesse caso a morte se faria de pequenas vidas?)
.apagaria com essa borracha suja que me mancha a folha de papel antes de escrever
(E nisso sou especialista!)
.acenderia o cigarro já apagado
.começaria um amor esquecendo para depois amar e ir me apaixonando cada vez menos
(E não me parece uma história lá muito original)
.nesse andar retrocedido que não precisa ser contínuo
o conhecimento antecederia a ignorância
.Frequentaria a escola para ficar cada vez mais burra
.O professor, um completo ignorante, ensinaria os estudantes sábios a ignorar as artes, a linguagem, a ciência
.Sairia do teatro para aplaudir os atores, aí sim a história iria se apresentando até seu começo
.Trabalharia muito  para só depois aprender a trabalhar
!as eleições mobilizariam o povo todo a depor o governo
.cuspiria a comida já saboreada
.beberia todas para tomar um porre de sobriedade
.tomaria remédio para ficar doente
. cansaria antes de dançar
(e dançaria para sempre!)

E vislumbrando esse retrocedido caminhar
é que percebo que esse mundo anda mesmo de pernas pro ar.
Acertada que estou
que só me resta errar.

JBF 17/02/2013


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Síndrome de Bartleby


A escrita é minha antiterapia.
A minha loucura escorrida
por entre os dedos das mãos.
Os meus amores frustrados
embelezados na folha de papel.
O projeto de vida fracassada
fantasiado de testemunho.

Escrever é minha fraqueza sustentada (e mal equilibrada) nas pautas do papel.
Revela-me nua de uma forma indigna.
A pena desfia pela humanidade a minha loucura?
Por isso peço:
Fica comigo!
Não fuja!
Pare de escorrer dos meus dedos
A minha loucura
Fica comigo e aqueça meus atos
Para desatar-me em pranto
em canto...
em dança...
E ser mais livre
por isso louca
Pare de escorrer da minha mão
riscando a folha
traçando em tinta
os vestígios da minha imensidão.

Preferiria não.
Preferiria não?

Preferiria estancar a tinta
entupir a pena
e me afogar na minha loucura.
Preferiria não.
Preferiria a minha lucidez?
Preferiria engasgar-me
com minhas palavras
Engolir
meus pensamentos
Sufocando-me
de ideias
Para morrer de inspiração




"e renascer poesia".


(Ao som de Clarice. Digestão da peça Preferiria não?, rebulida por Sexton e exorcisada por causa do texto Desenfezando)

JBF 28/01/2013, editada em  03/02/2013.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Corpóreo



Meu Corpo
Livre
Consciente da sua sensualidade
Serpenteia no espaço
Embaraçando olhares

Consciente da sua fragilidade
Não se cobre
Nem cruza as pernas
Nem baixa olhar

Meu corpo-templo
Sabe
Não é imaculado
Não por ser meu
Não por serpentear deslizante e travesso
Não por ser mulher
Mas por ser corpo.

JBF  07/01/2013

Ruína

Nosso amor é ruína.
Pode até ter beleza na sua decadência,
mas por dentro
é só
Solidão.

JBF 26/12/2012

domingo, 21 de outubro de 2012

O tom da pele


Qual é a sua cor?
Qual o seu tom?

A pele que marca o ritmo
é a pele que apanha.

Qual é a sua cor?
Qual o seu som?

É da terra a pele
É marrom
Veio do barro
e veio de barco
a pele
e trouxe o tom.

O tom da pele.
O tom do som.
A cor da pele.

Origem e tambor.

Qual seu tom?
Qual é seu som?
Qual é a sua cor?

sábado, 29 de setembro de 2012

Para Van

A dança que eu respiro
           em baixo d'água
A chuva que eu transpiro
A água
O transbordo do corpo
O cheiro do teu cabelo
                 que me guia
                    Piruetas e rodopios
Um vôo de olhos fechados
  no cheiro do seu perfume
               (com cheiro de flor amarela)
                            Compartilha mais essa dança comigo, menina?

sábado, 22 de setembro de 2012

Primeira chuva

Um raio corta o instante.
A chuva desseca
Cortante
Entre agora e antes.
Memória.
O cheiro da terra molhada.
Minha alma
que deságua
em pranto.
A chuva que lava a solidão.
É noite.
Um raio corta o instante
do meu coração.

JBF 21/09/2012   Para a primeira chuva que corta a seca do mês de Setembro em Brasília.